segunda-feira, 18 de abril de 2016

Elaborar a suave dor que mata

E no silêncio desse quarto a solidão afoga a sombra da minha tristeza, a saudade corta meus pulsos e o medo aperta meu coração. Sub existo pelo consciente do vazio que tende a elaborar no nada aquilo que me falta. E de tanto elaborar isso que sinto é o que me mata. Elaborar o vazio, escolher ter um coração frio, permanecer oculta no brio?



Laila Naymaer




Sentir Em Dualidade

Eu gostaria muito de ter coragem para te dizer algumas coisas, mas já são dias tão difíceis de olhar nos teus olhos. Fico tentando disfarçar o que simplesmente acredito que tu está em demasiado cansaço de desconfiar... Tua pele me mata, cada pontinho dessa constelação do teu corpo, teu sorriso me amolece inteira, e cada uma das tuas lágrimas contorce meu corpo músculo a músculo, e quando tu me toca é com choques que reagem cada uma das mais diversas terminações nervosas do meu ser. Pode ser que isso mude rápido. Será? Pode esse teu efeito inebriante passar? Ponde a vontade calmar? Pode esse desejo passar? Será mesmo possível?

Que doença. Qualquer música de ritmo um pouco mais envolvente me faz lembrar tua voz de vítima, quase infantil, quando tenta me convencer de algo ou quando pede por favor, essa expressão que vem com açúcar dos teus finos lábios, teu por favor, por favor me faz um pedido especial. Tu sabes... Confessa que sabes... Por favor.

É insuportável conhecer teu corpo sem conhecer e saber quando cada mudança de tom de voz quer me deixar uma mensagem, quando cada olhar para o chão me diz que tens vergonha de algo. Insuportável. Insuportável e mesmo assim suportável. Quanta dualidade de sentir.


Laila Naymaer


Vontade Líquida

Uma taça sobre a mesa, cheia, sem sentido, já não é mais o nosso vinho. Só é vazio. A umidade no ar, o abafamento parece ser por dentro. A outra taça está vazia, ali no lugar que ela geralmente não gostava. Ela acende um cigarro e senta. Será essa sua sentença? Nada mais fazia sentido. Levanta, vai à janela, passa a mão no bocal da taça, molha a ponta do dedo indicador. Não. O vinho não tem mais o mesmo gosto. Olha a louça empilhada na pia. Acende outro cigarro e percebe que aquele vinho não faz mais sentido, nenhum, nem branco, nem tinto. A outra taça ainda está ali. Vazia. A vontade é líquida e o desejo cruel.



Laila Naymaer