terça-feira, 27 de maio de 2014

...entre um chá e outro...

Quando a gente ama alguém, e ama muito, dói dizer o que faz bem para a pessoa, mas vai doer na gente, no entanto é preciso dizer, não tem jeito. Amar é amar a felicidade do outro, mesmo que a gente tenha que passar menos tempo junto. Principalmente o amor fraternal, esse sim faz falta. Amar assim é torcer para que dê tudo certo só para ver a pessoa feliz, mesmo querendo que dê tudo errado. Mas é ir lá e dizer "vai, eu te apoio". A gente sabe que ama quando entre um café e outro a pessoa pede a tua opinião e tu dizes “é, eu acho que tu tem que fazer, é o que tu queres, é a tua realização que está em jogo”, mesmo que durante essa fala tu estejas te cortando os pulsos. Amar é entre um chá e outro olhar bem fundo nos olhos, e a gente ser tão leal à pessoa e ao mesmo tempo a nós mesmos que num surto de coragem sejamos capazes de dizer “não é o que eu queria te dizer, mas é o que eu acho que vai te fazer feliz”. A gente dá por conta que ama quando não aceita bem a ideia, mas sorri para não desestimular o outro, quando ao invés de assistir filme deitada, tapada, no colo nós então fazemos isso sentados em um sofá há metros de distância, sentada, enrolada e sem nem olhar para o lado, porque não tem erro, olhou... Chorou.

Laila Naymaer




Os trechos de Marla de Queiroz para hoje...

"Eu sou essa gente que se dói inteira porque não vive só na superfície das coisas."



“Não nasci para ser adequada, coerente, adorável. Nasci para ser gente. Para sentir de verdade. Tenho vocação para transparências e não preciso ser interessante o tempo todo. Por isso, não espere que eu supere as suas expectativas: às vezes, nem eu supero as minhas.”



"O que há de irremediável não se cura com placebos. Se eu rejeito é porque não quero. Se eu recebo é porque já participa de algo aqui dentro. Minhas ambições são apenas estar com a roupa adequada para quando eu sumir nesta estrada, nunca sentir que minha intuição e o meu coração estão desagasalhados..."



"Não sou sempre flor. Às vezes espinho me define tão melhor. Mas só espeto os dedos de quem acha que me tem nas mãos."



"Às vezes é preciso dormir, dormir muito. Não pra fugir, mas pra descansar a alma dos sentimentos. Quem nasceu com a sensibilidade exacerbada sabe quão difícil é engolir a vida. Porque tudo, absolutamente tudo devora a gente. Inteira."



Marla de Queiroz






Que eu saiba dizer sem que isso me machuque demais

"Que a minha intensidade não me impeça de respirar vezenquando, pois suspiro o tempo todo pra encontrar espaço nesse peito que já nem se cabe. Que essas explosões de vida, de beleza e dor me permitam ao menos, por alguns momentos, absorvê-las com tranqüilidade: para que eu consiga dormir sem ter de chorar ou gargalhar até a exaustão, pois sinto falta de apenas lacrimejar ou sorrir sem contrações, descontraída. Que a felicidade não me doa sempre e tanto, a ponto de assustar. Que haja alguma suavidade nos meus olhos diante do cotidiano e que eu não me emocione exageradamente com esta delicadeza. Que eu possa contemplar o mar sem que ele me afogue por completo. Que eu possa olhar o céu imenso e que isso não me aniquile por lucidez extrema. E que quando eu escrever um texto, ao ser publicado, assim, despido de qualquer revisão emocional, dotado apenas da intuição que me foi dada, que encontre a fonte precisa que agasalhe a palavra “palavra”. Que eu não viva só em caixa alta, com esses gritos que arranham silêncios e desgovernam melodias. Que eu saiba dizer sem que isso me machuque demais. Que eu saiba calar sem que isso me provoque uma tagarelice interna inquieta. Que eu possa saber dessa música apenas que ela se comunica com algo em mim, nada mais. Que eu possa morrer de amor e, ainda sim, ser discreta. Que eu possa sentir tristeza sem que ela se aposse de toda a minha alegria. E que, se um dia eu for abandonada pelo amor, não deixe que esse abandono seja para sempre uma companhia."

Marla de Queiroz


Desenhou corações onde só havia minha dor e eu discordei da interpretação alheia.

Porque eu tenho pesadelos que parecem tão reais até quando você me abraça. E eu acordo triste, e brigo de verdade e passo o dia grave e dolorida como quando a gente leva um tombo no piso liso... que é só o passado. É como se eu sentisse um ciúme horroroso do meu livro predileto comprado em sebo, a dedicatória apaixonada que não é a minha, os resquícios do manuseio de outras mãos. Alguém corrompeu o trecho que eu mais gostava quando grifou à caneta algo que não pude apagar com borracha e que era tão secretamente meu. Desenhou corações onde só havia minha dor e eu discordei da interpretação alheia. E achei aquilo tudo de uma crueldade atroz. Mas permaneci com o livro no colo, cheia de um afeto confuso por ele: afeto pelo que era, angústia por já ter sido de outro alguém, e aquela sensação (imbecil) de falta de exclusividade. Eu que sempre achei que tudo é e está para o mundo. Perdoa o meu senso de autoimportância, já que não consigo perdoar o meu egoísmo. Eu sei que em alguns presentes, no embrulho, laços do passado são aproveitados. Eu só queria que eles não fossem tão vermelhos: desses que doem nos olhos e no coração.

Marla de Queiroz


Hoje simplesmente não deu. Hoje eu não fui feliz.

Hoje eu estou decepcionada. Realmente hoje, hoje eu queria jogar tudo para o alto e sair correndo, abrir a porta e me atirar. Nada me doeu mais hoje. Foi feio, não foi nobre. Eu não sou nobre comigo mesmo, eu simplesmente entrego a minha confiança. Eu olho em volta e me entristeço com a capacidade das pessoas de serem tão sínicas. Hoje eu estou ferida. Hoje, hoje eu pedi arrego, só para não pedir para descer.

Hoje eu me irritei.
Hoje eu perdi a paciência.
Hoje eu gritei.

Hoje eu sofri.

Hoje eu senti dor no corpo.
Hoje eu senti dor na alma.
Hoje eu, agora eu ainda estou me sentindo mal tratada.

Hoje eu estou destruída.

Hoje eu estou chorando por fora.
Hoje eu estou esfaqueada por dentro.
Hoje deu tudo errado.

Hoje eu estou um animal.

Hoje eu me senti acusada.
Hoje eu me senti traída.
Hoje eu me senti usada.

Hoje eu só queria sumir e fazia muito tempo que eu não me sentia assim. Hoje eu cheguei aqui em casa e fui comer, não comi, eu fui para o quarto me atirei na cama e chorei, e eu ainda não parei. Hoje eu recebi uma declaração de amor materno que há muito tempo eu não escuto da minha própria mãe “... e eu te amo como se tu fosse minha filha de verdade”, isso é bom demais, mas isso me doeu.

Hoje eu me senti rejeitada.
Hoje eu descobri que eu sou despreparada.
Hoje eu redescobri porque eu andava sempre armada.

Hoje eu estou chorando, porque eu ando como se estivesse engasgada.

Hoje faz uma semana que eu não estou legal, eu não aceito bem as novidades quando eu sinto que eu vou ficar mais distante ainda das poucas pessoas que eu realmente amo. Amanhã vão se completar sessenta dias que eu estou tão longe de uma amiga, e quem iria pensar que eu fosse sentir tanta falta assim. Eu que sempre fui tão suficiente. Ao que parecia pelo menos.

Hoje eu me senti desprotegida, sem ter colo pra chegar aqui em casa, deitar e chorar. Hoje eu cheguei e mais uma vez chorei sozinha no escuro do quarto, já fazia tanto tempo que isso não acontecia. Eu que tinha prometido para mim mesmo que não ia doer mais. Hoje parecia que as minhas articulações sentiam o girar das rodas do carro.

Hoje o mundo esfregou na minha cara a minha imaturidade, o meu despreparo e principalmente o meu desamparo. Hoje que eu não consegui estar sozinha por muito tempo. Hoje eu tive aquela sensação que perdi o controle. Hoje eu não tinha dinheiro para gastar. Hoje não dava para simplesmente sair e comprar um sapato novo. Hoje não rolou comprar maquiagens. Hoje cedo eu já acordei sem vontade de nada. Eu tenho prazos estourando e simplesmente não consigo produzir nada.

Hoje o dia amanheceu com um sol frio e era como se a vida me dissesse de forma irônica, mas verdadeira “Não querida, hoje não, hoje nem tenta, hoje eu vou passar e vou machucar. Hoje eu vou te tirar o direito de ser feliz, hoje simplesmente não vai dar”.


Hoje simplesmente não deu. Hoje eu não fui feliz. 


Laila Naymaer


sexta-feira, 9 de maio de 2014

Turbilhão de Vozes

Não mexa no meu silêncio,
se não puder lidar com meu barulho. 
Só eu sei o turbilhão de vozes 
que habitam dentro de mim.



Carolina Hahmeyer