domingo, 19 de janeiro de 2014

Raquel e Jacob por Camões

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia o pai, servia a ela,
e a ela só por prêmio pretendia.


Luís de Camões



Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança...

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.



Luís de Camões


Mas, conquanto não pode haver desgosto onde esperança falta, lá me esconde

Busque Amor novas artes, novo engenho, 
para matar me, e novas esquivanças; 
que não pode tirar me as esperanças, 
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho! 
Vede que perigosas seguranças! 
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde 
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto 
um não sei quê, que nasce não sei onde, 
vem não sei como, e dói não sei porquê.


Luís de Camões


Não desesperes!












Ontem eu publiquei três escritos de Drummond,
durante a madrugada prometi que hoje teríamos
três escritos de Pessoa, então ao procurar o último
desses três, me deparei com algo que realmente 
mexeu comigo, sabe, identificação... 
Então compreendi que
 não é qualquer Chapeleiro que se encaixa com a Alice.






"Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres. 

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!

Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo! 

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme."

Fernando Pessoa

Dever de Sonhar


Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre, 
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo, 
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso. 
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas 
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho 
entre luzes brandas e músicas invisíveis.


Fernando Pessoa




sábado, 18 de janeiro de 2014

Difícil é chegar ao coração!

É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo.



Fernando Pessoa


Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.
E com confiança no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer ou ter coragem pra fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende.
E é assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.

Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.

Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.

Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las.
Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta ou querer entender a resposta.

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.

Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.

Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.

Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.



Carlos Drummond de Andrade





Não deixe o amor passar

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor.

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.



Carlos Drummond de Andrade


A Um Ausente


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste


Carlos Drummond de Andrade



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Nas faces, nos brilhantes...

    Nas faces das madrugadas te encontro em todo tempo a vagar pelos meus recuerdos. Encontro alguém de sonhos, um alguém de uma personalidade surreal, mas apaixonadamente dotado de uma timidez surpreendente em momentos diferenciados, alguém que é bom demais para ser verdade, alguém que faz tudo para agradar...

    Nos brilhantes lampejos dos dias te encontro com uma personalidade forte, trazendo esse cheiro de mar às minhas decisões. Deparo-me com essa enfática opinião a acreditar nas realidades e duvidar das metafísicas com tanta veemência, essa sutileza às vezes nem tão sútil assim, mas sincera ao ponto de tornar-se passível de trazer paixão...

       Não sei até que ponto é possível apaixonar-se por dois seres tão diferenciados, não há perfil que de diretrizes ao coração, não há personalidade que dite padrões aos sentimentos. Não sei sobre nada mais, só sinto que as dúvidas são tão grandes que me mantenho só, pois diante de tal escolha prefiro escolher ficar só. Pelos menos por enquanto...


Laila Naymaer




terça-feira, 14 de janeiro de 2014

E os dias passam, e eles passam...

(...)

Estão perdendo a viagem aqueles que não se comprometem com nada: nem com um ofício, nem com um relacionamento, nem com as próprias opiniões. Estão sempre flanando, flutuando, pousando em sentimento nenhum, brigando por idéia nenhuma, jamais se responsabilizando pelo que fazem, pois nada fazem. Respirar já lhes é tarefa árdua e suficiente. E os dias passam, e eles passam, e nada fica registrado, nada que valha a pena lembrar.

Estão perdendo a viagem aqueles que, em vez de tratarem de viver, ficam patrulhando a existência alheia, decretando o que é certo e errado para os outros, não tolerando formas de vida que não sejam padronizadas, gastando suas bocas com fofocas, seus olhos com voyeurismo, sem dedicar o mesmo empenho e tempo para si mesmo.

Estão perdendo a viagem aqueles preguiçosos que levam semanas até dar um telefonema, que levam meses até concluir a leitura de um livro, que levam anos até decidir procurar um amigo. Pessoas que acham tudo cansativo, que acreditam que tudo pode esperar, que todos lhe perdoarão a ausência e o descaso.

Estão perdendo a viagem aqueles que não sabem de onde vieram nem tentam descobrir. Que não sabem para onde ir e nem tentam encontrar um caminho. Aqueles para quem a televisão pode tranqüilamente substituir as emoções.

Estão perdendo a viagem aqueles que se entregam de mão beijada às garras do tédio.


Martha Medeiros




domingo, 12 de janeiro de 2014

... não entendo e não estou tentando entender.

Das coisas que eu não entendo


Não entendo mais essa saudade boba, ou essas minhas atitudes infantis. Não entendo mais meu nervosismo em extremo quando chego perto de ti, não entendo o porquê de gaguejar e tremer inteira quando falo contigo. Não entendo essa mania de abrir tua janela, digitar, digitar, digitar e não mandar nada, não entendo porquê fico olhando tuas fotos ou porquê minhas músicas preferidas fazem eu pensar em ti. Não entendo porquê eu sufoco quando não te vejo, nem porquê eu invento desculpas pra subir as escadas e passar na frente da tua janela. Não entendo porquê eu decorei os corredores de onde dá pra te ver. Não entendo porquê eu acho que te conheço mesmo isso não sendo verdade, não entendo porquê eu derreto quando tu sorri, não entendo como tua voz pode ser tão encantadora, não entendo porquê tenho vontade de escrever sobre ti, pra ti… Não entendo porquê tenho tanto medo de tu me achar uma pessoa ruim, não entendo a tristeza que me dá quando eu lembro que não somos nem amigos, não entendo a alegria que me dá quando tu me dá oi e parece que fica sem jeito, não entendo porquê é tão bonito te ver passar a mão no cabelo, não entendo porquê eu acho incrível o teu jeito de falar, não entendo a vontade que eu tenho de chegar mais perto de ti, não entendo o frio na barriga que me deu aquele dia que eu toquei nas tuas mãos, não entendo porquê parei pra prestar atenção na cor das veias do teu braço, não entendo como posso me perder tão fácil nos teus olhos, não entendo porquê já sei dizer os dias que tu ta bem ou mal humorado, não entendo porquê essas coisas todas me dão tanta agonia, não entendo porquê teu peito parece tão convidativo a um abraço, não entendo a vontade que eu tenho de enfiar os dedos no meio dos teus cabelos, não entendo o medo que me dá de tu saber que eu sinto isso, não entendo a certeza de que enlouqueci, não entendo tudo isso, não entendo e não estou tentando entender.


Anna Almeida.




sábado, 11 de janeiro de 2014

Acordando com Voltaire

As paixões 
são os ventos que enfunam as velas dos barcos, 
elas fazem-nos naufragar, por vezes, 
mas sem elas, eles não poderiam singrar.


Voltaire





Você me acha louca?

Alice: 
Chapeleiro, 
você me acha louca?


Chapeleiro:  
Louca, louquinha ! 
Mas vou te contar um segredo: 
as melhores pessoas são.



Alice no País das Maravilhas




domingo, 5 de janeiro de 2014

Que loucura real

Já imaginaste que louco crer num Deus que tu não enxerga assim como o vento transparente, mas que tu sentes? mas tu o sentes... Já imaginou que louco confiar em algo metafísico, mas que te enche de uma paz sem igual?


É muito louco, estou me permitindo viver assim hoje, o julgo da vida é mais suave e o fardo de vivê-la é mais leve, tu tens problemas, mas no início já sabes sobre a certeza da vitória ao final.


Laila Naymaer




quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Vícios e desintoxicações



Já percebeste que existem alguns vícios alternativos? Não te surpreendas, existem sim dependências um pouco diferentes, um tanto corriqueiras, mas que só percebemos nosso grau de dependência quando partimos para o processo de desintoxicação. Não são vícios sujeitos a partir de algumas substancias químicas de plantas ou sintéticas, mas sim de sensações, palavras e cheiros, ou seja, da química corporal e sentimental que algo ou alguém te provoca.
Neste tipo de dependência existem duas opções ou te entregas a ela ou resistes a ela... Até a resistência não pode ser chamada assim, porque tu não consegues te defender de principio, ela chega devagar e vai tomando conta de ti. Surpreendentemente envolve-te. Quando então percebes que precisa parar já está na tua corrente sanguínea cotidiana.  A partir daí te conscientizas então da necessidade que tens de te entregar completamente ou de desintoxicar-te aos pouquinhos, é um processo doloroso, mas não é impossível.
É necessária cautela para o processo, até porque geralmente esses vícios se encontram entre um ser humano do teu convívio e tu, e não vá rápido demais achando que está totalmente livre, como diz uma amiga “às vezes, meio carente a gente fraqueja”... Então decides, e um pouquinho por vez, vai evitando a personalização da relação, descobrindo como se manter em profissionalismo. É difícil sim, mas como toda desintoxicação se faz necessário que te olhes no espelho todos os dias em tal hora e que repitas a ti mesmo “só mais 24 horas”...
Ou por ti negas ou te entregas...



Laila Naymaer



quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

É um risco...


Hi 2014!!!





2014 Bem-vindo!!!


Seja muito, mas muito bem-vindo, tu chegaste mandando teus recados e como não aproveitar teu primeiro dia se não tendo um encontro com os amigos e as amigas e partilhando desse amor fraternal?

Os recados foram copiados e registrados, vem mesmo, vem com tudo, tens tudo para ser um grande ano, um ano de realizações. 




Laila Naymaer