Acho que me refugiei em
desejar-te para tentar me libertar, talvez para me sentir viva ou capaz de
sentir depois de tanto tempo. Querer o que não posso ter e assim movimentar uma
ilusão que inconscientemente possa me levar a transgredir meu estado de crença
e acomodação.
Talvez o que me fascine seja
a possibilidade de transgredir essa vida pateticamente perfeitinha. A
possibilidade de ter prazer e me culpar por ele me faz ter um estranho sorriso
nos lábios. Essa identificação de desejar essa imoralidade que te hospeda, pode
ser que isso demonstre o meu desejo de outrora que foi reprimido, sublimado e
potencializado, mas ainda um desejo de viver um momento nessas sombras, nesses
vãos entre os prédios, nesses becos escondidos.
Há uma possibilidade tão grande
sob a névoa do inaceitável, no ato de entrar nesse mundo, conhecê-lo e logo
depois voltar a realidade. É essa a possibilidade que teu sorriso representa
para mim, esse prazer reprovável, um instante de conhecimento, e tão já o
momento terminado e conhecido usá-lo na vida cotidiana, sem precisar ter-te sempre.
É esse o teu símbolo, um
livro com receitas que impulsionem o desejo que por vezes foi só e tão somente
abafado. Provavelmente seja por isso que tenho me encontrado tão frágil, mas ao
mesmo tempo essa sensação de impotência sobre o desejo me deixa tão incomodada.
Torna-se tão estranha a indagação
de cogitar a possibilidade de me abrir para outras situações, mas também de por alguns instantes completar o que me falta e me sujeitar, no entanto desta vez
eu despida do misticismo, deixando do lado de fora as pedras de alquimia, e
depois retornando.
Sendo as coisas muito
loucas, buscando eu uma dominação (mesmo que momentânea) que me liberte. Seja
minha desordem...
Laila Naymaer
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