Causa-me um estranho sorriso nos lábios reconhecer que fazemos pinturas de
nós mesmos, um para o outro. Acabamos nos pintando daquilo que acreditamos ser
esperado de nós. É como uma dança métrica, ajustável e previsível, é a tal
jogada de xadrez em uma mesa onde o único desejo verdadeiro e contido é atirar
o tabuleiro para o alto com força.
Esgueiramos-nos um do outro como animais rondando a mesma caça, ambos com o
mesmo objetivo, mas ao mesmo tempo nos olhamos de forma velada, assim nos
cantos dos olhos, por cima, por baixo, dificilmente em retidão, tentando e demonstrando
uma fria e torpe indiferença, que talvez pareça nos livrar de alguma culpa. Queremos-nos
em evidencia. Queremos não nos querer, em maior evidencia ainda.
Esses sinais em cada toque com as pontas dos dedos, o caminhar misterioso
de um jaguar decidido, uma fera instigada a fazer um grande estrago e a romper
os véus. No entanto ambos vivem pintando de toda forma possível uma figura completamente
avessa, necessitada de atenção. Um jogo de animais.
Laila Naymaer
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