sexta-feira, 11 de abril de 2014

Uma guerra entre feras comedidas...

Causa-me um estranho sorriso nos lábios reconhecer que fazemos pinturas de nós mesmos, um para o outro. Acabamos nos pintando daquilo que acreditamos ser esperado de nós. É como uma dança métrica, ajustável e previsível, é a tal jogada de xadrez em uma mesa onde o único desejo verdadeiro e contido é atirar o tabuleiro para o alto com força.

Esgueiramos-nos um do outro como animais rondando a mesma caça, ambos com o mesmo objetivo, mas ao mesmo tempo nos olhamos de forma velada, assim nos cantos dos olhos, por cima, por baixo, dificilmente em retidão, tentando e demonstrando uma fria e torpe indiferença, que talvez pareça nos livrar de alguma culpa. Queremos-nos em evidencia. Queremos não nos querer, em maior evidencia ainda.

Esses sinais em cada toque com as pontas dos dedos, o caminhar misterioso de um jaguar decidido, uma fera instigada a fazer um grande estrago e a romper os véus. No entanto ambos vivem pintando de toda forma possível uma figura completamente avessa, necessitada de atenção. Um jogo de animais.


Laila Naymaer


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