Como alguém tão igual
ao papai consegue tirar do prumo a menina tão correta? Justamente aquele alguém
tão condenável, tão incógnito, aquele alguém que normalmente lhe causaria
revolta por usar as mulheres, esse alguém lhe causou desejo de estar perto. Um
rascunho, um ensaio bem distante do planejado “homem dos sonhos”.
E quando o seu objeto
de maior desejo também lhe causa náuseas? É como se tudo virasse de cabeça para
baixo, tudo estivesse tão diferente. A raiva já chega do nada, a irritação vem
e a paciência vai. O perfume, a voz e a presença tão familiarmente bem quistos
antes por agora lhe dão dores de verdade. Não são náuseas figuradas, são
náuseas reais, uma sensação de desconforto, a impressão irritante de nudez aos olhos de alguém
e a pior de todas as sensações, a perda de controle. O corpo já virou escravo
de dois senhores. Tanto se quer como tanto não se quer.
Como poderia descrever
essas náuseas? Ao sentir as duas coisas ao mesmo tempo, desejo e repulsa é o
mesmo que viver uma condenação. Uma vegetariana querendo comer carne, mas isso
infringe seus princípios e moralidades. É como ser uma vampira e nunca poder
sugar sangue suficiente, mas ao invés de sugar sangue sugar sentimentos. Alimentar-se comedidamente todos os dias, mas nunca satisfazer o desejo, faz bem
para o ego, mas não concretiza nenhuma corrupção. Satisfação, isso implicaria em ceder e
reconhecer essa dependência de um ser humano para satisfazer a si próprio.
Como é ser uma vampira
de satisfações? É uma castração dosada. É como não ter limites e um belo dia
lhe aparecer algo que não pode ter. A menina tão acostumada a só querer o
aprovável descobrir que o reprovável lhe causa mais interesse. O proibido lhe
atrai e ela se reprime, reprime, reprime, reprime e reprime. Ao mesmo tempo em que deseja, se condena por desejar,
mas não consegue parar. É como saber que algo faz mal e se iludir em parar aos
poucos e os poucos seguirem sempre.
Laila Naymaer
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