domingo, 20 de abril de 2014

Entrevista à vampira

Como alguém tão igual ao papai consegue tirar do prumo a menina tão correta? Justamente aquele alguém tão condenável, tão incógnito, aquele alguém que normalmente lhe causaria revolta por usar as mulheres, esse alguém lhe causou desejo de estar perto. Um rascunho, um ensaio bem distante do planejado “homem dos sonhos”.

E quando o seu objeto de maior desejo também lhe causa náuseas? É como se tudo virasse de cabeça para baixo, tudo estivesse tão diferente. A raiva já chega do nada, a irritação vem e a paciência vai. O perfume, a voz e a presença tão familiarmente bem quistos antes por agora lhe dão dores de verdade. Não são náuseas figuradas, são náuseas reais, uma sensação de desconforto, a impressão irritante de nudez aos olhos de alguém e a pior de todas as sensações, a perda de controle. O corpo já virou escravo de dois senhores. Tanto se quer como tanto não se quer.

Como poderia descrever essas náuseas? Ao sentir as duas coisas ao mesmo tempo, desejo e repulsa é o mesmo que viver uma condenação. Uma vegetariana querendo comer carne, mas isso infringe seus princípios e moralidades. É como ser uma vampira e nunca poder sugar sangue suficiente, mas ao invés de sugar sangue sugar sentimentos. Alimentar-se comedidamente todos os dias, mas nunca satisfazer o desejo, faz bem para o ego, mas não concretiza nenhuma corrupção. Satisfação, isso implicaria em ceder e reconhecer essa dependência de um ser humano para satisfazer a si próprio.

Como é ser uma vampira de satisfações? É uma castração dosada. É como não ter limites e um belo dia lhe aparecer algo que não pode ter. A menina tão acostumada a só querer o aprovável descobrir que o reprovável lhe causa mais interesse. O proibido lhe atrai e ela se reprime, reprime, reprime, reprime e reprime.  Ao mesmo tempo em que deseja, se condena por desejar, mas não consegue parar. É como saber que algo faz mal e se iludir em parar aos poucos e os poucos seguirem sempre.


Laila Naymaer 


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