sexta-feira, 31 de maio de 2013

Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos


Das coisas que eu gosto na gente, 
é 
que sempre vai ser essa amizade meio apaixonada, tando e sempre. 
Não da paixão carnal que os 
mortais 
compartilham que se acaba tão já quanto veio, 
mas de toda essa essência só nossa. 
Mescla de 
admiração e fascinação
 ao ver a face de quem te olha, 
falar das coisas que você gosta 
e que o outro ser também gosta. 
A nossa essência está nas coisas 
que são tão nossas,
 incompreensíveis 
a outro ser, qualquer um...
Estamos nós distantes, dois seres diferentes, 
de gostos tão parecidos, de vozes tão afinadas,
de desejos futuros transparecidos.
Um amor de amizade como o nosso, 
é diferente do que eles conhecem,
não é blasé e nem se pode prever.
É um amor tão grande, 
que quando eu falo sobre quem está com você,
você até interpreta que não vê
e finge aprovar as minhas escolhas tão ortodoxas, 
que chegamos ao ponto onde escolhemos um futuro parecido, 
onde ao que tudo indica estaremos mais distante, 
mais do que qualquer um previu...
E se seguir assim,
devoção 
como a nossa falarão:
nunca se viu.

Laila Naymaer




Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.

Vinícius de Moraes




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